terça-feira, 17 de junho de 2008

Câmara aprova fim das carroças
Em meio a tumulto, vereadores aprovaram extinção dos veículos até 2016


Houve xingamentos, ameaças e até uma briga entre duas mulheres.

Numa das sessões mais conturbadas dos últimos anos, a Câmara de Vereadores aprovou, ontem, o fim do trânsito de carroças pelas ruas da Capital, no prazo de oito anos. Também serão proibidos os carrinheiros, aqueles que tracionam veículos com os próprios braços.

O projeto do presidente da Câmara, Sebastião Melo (PMDB), foi aprovado por 22 votos contra 12, para vibração dos defensores dos animais, que denunciavam maus-tratos contra os cavalos. Uma emenda de Beto Moesch (PP) e de Haroldo de Souza (PMDB) estendeu a proibição aos carrinheiros. Foi para prevenir que carroceiros se transformassem em carrinheiros, o que continuaria afetando o trânsito da Capital.

A eliminação dos veículos de tração animal e humana ocorrerá aos poucos, até 2016. Pelo projeto, a prefeitura deverá garantir alternativas de renda às famílias dos carroceiros. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) calcula que 30 mil pessoas dependam da coleta de lixo reciclável por meio de veículos de tração.

A Câmara reforçou a segurança, inclusive chamando guardas municipais e policiais militares, mas os tumultos ocorreram. Lotando uma das galerias, os representantes dos carroceiros vaiavam e insultavam os vereadores favoráveis ao fim dos veículos de tração. Único do PT a apoiar o projeto, Adeli Sell foi ameaçado e chamado de "adelixo".

Na outra galeria, concentravam-se os defensores dos animais. A professora Ana Flores, a ex-comissária de vôo da Varig Cleide Zanini e o artesão Renato Braz Silva estampavam fotos de cavalos mutilados, agonizando na rua.

Carroceiros adiantam que não cumprirão lei

No final da sessão, os ânimos se exacerbaram, com provocações e gestos obscenos. Num descuido dos seguranças, uma moça da ala dos carroceiros avançou contra uma defensora dos animais. As duas se engalfinharam pelos cabelos. Uma senhora tentou chutar um guarda e um cinegrafista, gritando que os vereadores estavam tirando o ganha-pão dos recicladores.

Vereadores contrários ao projeto tentaram contemplar os carroceiros. Duas emendas previam que as carroças só poderiam ser retiradas das ruas depois que a prefeitura criasse programas de renda e assistência às famílias. Ambas foram rejeitadas.

Os carroceiros ficaram inconformados com o resultado. Mulheres choravam, crianças gritavam. O presidente da Associação dos Carroceiros de Porto Alegre (Ascapoa), Teófilo Rodrigues Motta Júnior, desabafou:

- Isso é uma vergonha. Estão alimentando a máfia do lixo contra a classe pobre. Vamos continuar nas ruas e nos organizar ainda mais.

O projeto se tornará lei se for sancionado pelo prefeito José Fogaça. Ontem à noite, a assessoria informou que ele analisará o projeto, em função das emendas apresentadas.


Como ficará
O que ocorrerá se o prefeito José Fogaça sancionar o projeto:
As carroças deverão sumir da Capital, no prazo de oito anos
Os carrinheiros serão proibidos de circular pela cidade
Em troca, as famílias de carroceiros e carrinheiros deverão receber outra alternativa de renda
Por que os vereadores aprovaram o fim das carroças:
Para não atrapalhar o trânsito nas ruas
Para evitar maus-tratos aos cavalos
Por que os carroceiros não querem abandonar profissão:
Asseguram que ganham entre R$ 800 e R$ 900 por mês. Nos galpões de reciclagem, a renda cai pela metade
Não confiam em promessas de políticos
Garantem que apenas uns poucos não cuidam dos seus cavalos

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