sexta-feira, 25 de abril de 2008

Desmascarando o mito da vivissecção: as diferenças que fazem a diferença.

Como explicam os doutores Ray e Jean Greek, no começo de seu livro sobre a vivissecção, esta prática lhes foi apresentada nos anos de formação profissional como uma verdadeira "vaca sagrada" – um objeto de idolatria que não devia ser questionado. Em suas palavras, tudo no ensino que lhes era transmitido – de medicina veterinária, no caso da autora, e de medicina humana, no caso do autor – "sugeria que animais eram exatamente como humanos, um pouco mais peludos e de aparência mais engraçada, mas ainda assim iguais a nós".



Aos olhos dos jovens médicos, muito parecia sugerir a confiabilidade dessa antiga forma de pesquisa. "Descobertas supostamente decorridas de estudos em animais estavam constantemente na mídia. Como estudantes de medicina, estávamos bem familiarizados com o requerimento do governo de testes em animais no desenvolvimento de remédios e seu apoio financeiro a instituições de pesquisa. Certamente, subsídios para tais projetos eram vitais na renda de professores e universidades. E sem dúvida, nosso treinamento médico estava centrado nas características anatômicas, bioquímicas e fisiológicas supostamente compartilhadas por humanos e animais".

Entretanto, os próprios livros evidenciavam discrepâncias que "se chocavam com o que havíamos sido ensinados a reverenciar". Se os organismos humanos e animal são tão parecidos, "por que então Ray observava um de seus pacientes com colesterol alto desenvolver doença na artéria coronária enquanto Jean via seu cão com colesterol alto sofrer de uma desordem na tireóide? Por que mulheres que fizeram histerectomia precisam combater a osteoporose enquanto gatas castradas têm vidas mais longas e saudáveis? E por que humanos não são vacinados contra parvo e cães, contra rubéola? Nossas conversas no jantar sugeriam que a maioria das doenças animais simplesmente não ocorrem em humanos. E correspondentemente, os piores males da humanidade são extraordinariamente raros no reino animal".

Eram questões óbvias, mas que pareciam ignoradas pelo stablishment, que seguia em frente como se não houvesse perguntas a fazer. Os autores, naturalmente, hesitaram no começo, porque todos os avanços médicos de que tinham conhecimento eram atribuídos à vivissecção. "Mas o quão seguros e efetivos são estes avanços obtidos em pesquisas com animais? Investigando mais profundamente, descobrimos que, embora a cirurgia de ponte de safena tenha sido experimentada à exaustão em animais, quando foi testada em humanos, os pacientes morreram." Investigando mais, ficou evidente que estes casos não eram isolados, mas a verdadeira regra por trás do uso de animais em pesquisas. Por este motivo, "no mínimo quinze por cento das internações hospitalares são causadas por reações adversas de medicamentos. E drogas legais, que iniciam seu caminho para o mercado a partir de experimentos em animais, matam aproximadamente cem mil pessoas por ano." [Dados norte-americanos entre 1994 e 1997].

O fato é que aquelas discrepâncias, que o sistema vivisseccionista relega à segundo plano, na verdade invalidam o chamado modelo animal – tornando-o não apenas incerto, mas também perigoso à saúde humana. Isto não significa negar que existam similaridades entre os organismos de seres de espécies diferentes. Mas exige reconhecer que estas são quase sempre superficiais, enquanto os mais diversos fatores geram diferenças importantes. "Nós sabíamos, a partir de nossa experiência, o quanto a anatomia de humanos e animais é similar nos aspectos gerais, e o quanto varia nos detalhes. Por exemplo, todos os mamíferos têm coração de quatro câmaras que bombeia sangue, mas nossa própria instrução mostrava que no nível celular os mamíferos reagem muito diferentemente aos remédios. Todos os mamíferos terrestres têm quatro membros, mas tentativas de testar cirurgias de aorta em cães falharam porque a circulação em cães é diferente, em parte devido ao fato de que caminham sobre quatro extremidades, enquanto nós caminhamos sobre duas".

Enfim, ao longo de anos de pesquisas, os doutores Ray e Jean Greek acumularam dados que lhes permitem hoje questionar o sistema vivisseccionista. Sua investigação mostrou que os mais importantes avanços médicos não decorrem de pesquisas em animais, mas sim de métodos verdadeiramente científicos – que são, citando os autores, "autópsias, pesquisa in vitro, observação clínica, epidemiologia, modelos matemáticos, e outras modalidades de pesquisa baseadas no ser humano". Mas o sistema vivisseccionista dominante insiste que os resultados obtidos com tais métodos só são confiáveis depois de "validados" por testes em animais – e quantas descobertas importantes, realizadas a partir de estudos com pacientes humanos, foram menosprezadas pelo pensamento vivisseccionista, porque não se conseguiu repeti-las no chamado "modelo animal"...

Diante desses fatos, surge uma questão: o que ainda perpetua a vivissecção, apesar de suas contradições? Trata-se de uma pergunta realmente instigante, e os autores dedicam uma parte substancial do livro a respondê-la. Devido à importância da questão, citamos mais extensamente um trecho deste capítulo inicial, onde adiantam alguns argumentos básicos nesse respeito:
"Qualquer um que pergunte 'por que' precisa apenas seguir o dinheiro para encontrar a resposta. Como a gansa dos ovos de ouro, a experimentação animal é uma fonte de interminável financiamento. Seguindo os dólares pagos como subsídio, descobrimos um sistema de pesquisa médica corrompido por lobbies, cientistas oportunistas, empresas farmacêuticas irresponsáveis, agentes públicos desinformados e burocracias fechadas, todos beneficiando-se dos ovos de ouro do modelo animal.

A ciência é um monte de coisas, mas fundamentalmente não é relações públicas.. Não é burocracia. Não é corporações profissionais, nem interesses de grupos específicos. Não é uma commodity. Embora relações públicas, organizações, burocratas e dinheiro possam conduzi-la, a ciência não é nada disso. Porém, a ciência é moldada por nossas percepções, assim como nossa experiência do sol é afetada pela atmosfera terrestre. Os dólares vão aonde há interesse.

O que encontramos, em nossa pesquisa sobre a causa da perpetuidade da experimentação animal, foi confusão disseminada mantida por ilusão disseminada. O público tem mais confiança em propaganda do que em fatos, possivelmente porque os fatos, estando dispersos em publicações científicas, são quase sempre inacessíveis e inescrutáveis.

A outra razão pela qual a experimentação animal continua é simplesmente a força da convenção. É um pouco como a primeira lei de Newton – objetos em movimento tendem a se manter assim. Os experimentos em animais continuam só porque ocorreram durante um longo tempo, como explicamos no próximo capítulo."

Referência bibliográfica:
Ray & Jean Greek. Sacred cows and golden geese: the human cost of experimentation on animals [Vacas sagradas e gansas dos ovos de ouro: o custo humano dos experimentos em animais]. (Capítulo 1.) New York: Continuum International Publishing Group, 2003.

CPDA – Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais





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