quinta-feira, 29 de maio de 2008

Projeto Cidadão - Equoterapia promove a inclusão de deficientes

Todos são iguais dentro da Fazenda Capuava, em Valinhos. É lá onde funciona a Associação Cultural Educacional Social e Assistencial (Acesa), entidade sem fins lucrativos criada há 12 anos por Heloísa de Carvalho Criciúma, que fez da paixão por cavalos


uma chance para pessoas com necessidades especiais desenvolverem suas capacidades. A propriedade da família foi o lugar escolhido para a iniciativa que, mesmo depois da morte da fundadora, em 2006, continua a iluminar o caminho de muita gente.

A equoterapia (método que utiliza o contato com cavalos como instrumento terapêutico) foi e ainda é o diferencial da associação. Mas, atualmente, ela aposta também em outras atividades para a inclusão social de 37 crianças, jovens e adultos com deficiência, atendidos de graça todos os dias. Além dos momentos de interação com os animais, a instituição oferece terapia ocupacional, fonoaudiologia, hidroterapia, fisioterapia e aulas regulares de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Os pacientes podem permanecer no local durante meio período ou período integral.
(28/05/2008) -

Roberta Cimino, fisioterapeuta e coordenadora técnica da Acesa, explica que as ações são realizadas por uma equipe interdisciplinar, ou seja, profissionais de diferentes áreas que atuam juntos. São fisioterapeutas, fonoaudiólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e assistentes sociais que se reúnem semanalmente para trocar experiências e conhecimento. Segundo Roberta, o objetivo do trabalho é que os pacientes se tornem “seres humanos atuantes”. “Tudo depende de oportunidades”, afirma.

A parceria também se estende aos pais, cuja participação é fundamental na opinião da coordenadora. Ela avalia que, em 80% dos casos, o sucesso das terapias está ligado ao envolvimento da família. O pai de Ana Carolina Martins da Silva, de 5 anos e há um ano e meio em tratamento, concorda. Para Airton Aparecido da Silva, a entidade é um lugar acolhedor, onde é possível descobrir caminhos diferentes, mas é preciso contribuir. “Os profissionais ajudam em tudo para que a criança consiga melhorar, mas só funciona se a gente der continuidade em casa.”

Luciene Basioti também tem uma filha na associação e afirma estar feliz com o progresso da garota, que tinha crises de agressividade e passou a conviver melhor socialmente. “Ela não fala, mas percebi que tem até tentado cantar”, diz. Kely Basioti, de 21 anos, frequentou outras instituições e está há nove anos na Acesa, onde a mãe encontrou algo mais. “Viemos por causa do trabalho com cavalos, mas o amor com que os pacientes são tratados influencia”, afirma Luciene.

A mãe de Caio Peres de Souza, rapaz de 26 anos que tem paralisia cerebral, também se diz satisfeita com os resultados. Dulce Sousa optou pelo trabalho realizado na fazenda por causa do espaço e das atividades ao ar livre e comemora a escolha. “Ele parou de andar por causa de uma cirurgia e o médico disse que era irreversível, mas meu filho já está dando alguns passos apoiado nas barras paralelas”, conta. Para Caio, que gosta de futebol e dança, nada é impossível. “Eu acho que vou conseguir andar”, opina.

Além de mãe, Dulce é uma das quatro pessoas que participam voluntariamente no dia-a-dia da casa, colaborando com os 22 funcionários. Ela ajuda na cozinha, preparando e servindo as refeições oferecidas diariamente, frutos de doações. O voluntariado é essencial para que a chama da instituição não se apague.

Mariana Senatore, fisioterapeuta responsável pela equoterapia e nora da idealizadora do projeto, afirma que a falta de verba quase fez o local fechar as portas no final do ano passado. Segundo ela, hoje a associação se mantém com o pagamento do tratamento particular de oito dos 45 pacientes, verba de um recente convênio com a Administração municipal, colaborações de sócios-contribuintes e recursos arrecadados por voluntários com a organização de eventos, campanhas e venda de rifas.

SAIBA MAIS

A Associação Cultural Educacional Social e Assistencial (Acesa) é uma entidade sem fins lucrativos, localizada em Valinhos, que busca a inclusão social de pessoas com deficiência. Além da equoterapia (método que utiliza o contato com cavalos como instrumento terapêutico), a instituição oferece de graça aos pacientes fisioterapia, hidroterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e aulas de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Endereço
Rodovia Flávio de Carvalho, s/nº, Fazenda Capuava, Valinhos

Telefone
(19) 3871-7974

E-mail
fazendacapuava@uol.com.br

As pequenas conquistas trazem grandes esperanças

Após dois anos de tratamento, menina tirou sonda e desafio, agora, é a alfabetização

Um acidente doméstico causou uma parada cardiorrespiratória e deixou marcas em Ana Carolina Martins da Silva, na época com 3 anos de idade. A menina, hoje com 5 anos, não anda e não fala, mas isso não é obstáculo para ela e muito menos para os pais, que acompanham a filha todos os dias até a Acesa. Carol chegou usando sonda naso-gástrica (que leva alimento ao estômago pelo nariz) porque não podia se alimentar e, depois de um ano e meio, já começou a comer.

A mãe, Ana Patrícia Dias Martins, conta que a garota também passou a sustentar a cabeça e que agora o maior objetivo é a alfabetização. Segundo ela, foi na instituição que encontrou o apoio para as conquistas. “Eles tratam todos como filhos, incentivam, estudam e isso faz com que a gente saia daqui com muita esperança”, afirma. Para o pai de Carol, Airton Aparecido da Silva, as crianças com necessidades especiais são vistas pela sociedade como pessoas que têm problemas, mas isso não acontece na Acesa. “Aqui a gente encontra a solução e ninguém discrimina ninguém.”

De acordo com a fisioterapeuta e coordenadora técnica da instituição, Roberta Cimino, a menina tem evoluído a cada dia e as deficiências física e neurológica não são impedimentos para alfabetizá-la. A profissional afirma que Ana Carolina entende o que acontece ao redor e que demonstra isso por sorrisos e pelo olhar. Os pais dizem o mesmo e contam que quando pedem um beijo para a filha, ela pisca. E foi o que aconteceu quando pediram.

Benefícios da cavalgada são conhecidos há milênios

O Conselho Federal de Medicina reconheceu a equoterapia como método para reabilitação de pessoas com necessidades especiais em 1997, mas o efeito positivo da cavalgada nestes casos foi percebido muito antes. De acordo com a Federação Internacional de Montaria para Deficientes, os benefícios da prática, indicada para qualquer tipo de deficiência, são reconhecidos há mais de 3 mil anos.

Melhoria da mobilidade das juntas, equilíbrio, coordenação, força muscular, percepção espacial e maior confiança devido à melhora da auto-imagem são alguns dos ganhos. Segundo a federação, a atividade ainda ajuda no aprendizado, na concentração e na motivação para estabelecer e alcançar metas. Por causa do contato com um animal, a terapia também tem a vantagem de estabelecer laços de responsabilidade.

De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia, o objetivo é o alcance de benefícios físicos, psíquicos, educacionais e sociais. Mariana Senatore, fisioterapeuta responsável pela atividade na Acesa, concorda que o estímulo é muito abrangente. Para ela, a experiência das pessoas com necessidades especiais de estar em cima do animal já é o começo. “O cavalo é grande e elas se sentem bem ali, a auto-estima melhora”, diz.

Mariana explica que o trabalho começa com os primeiros contatos com o animal, o que segundo a Associação Nacional de Equoterapia já contribui para desenvolver novas formas de socialização. O próximo passo é o terapeuta montar junto com o iniciante que, com o passar do tempo, cavalga sozinho.

A fisioterapeuta afirma que é preciso não só o acompanhamento de um profissional especializado, mas outra pessoa para puxar o cavalo e também animais treinados. “O cavalo não pode assustar e, tão importante quanto o terapeuta, é o guia, pois os dois devem prestar atenção no paciente, no animal e no que acontece ao redo

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