domingo, 10 de agosto de 2008

Os animais e as doenças domésticas

Falta de cuidados com higiene e saúde dos animais podem gerar doenças
Criar um animal de estimação em casa é um hábito louvável. Cães e gatos são os preferidos da maioria, os mais facilmente encontrados por aí. O convívio com eles desenvolve a sensibilidade dos mais austeros, garante companhia para os mais solitários, alegria e vigilância para o lar. Mas certos cuidados são fundamentais para uma convivência saudável com os bichinhos,
principalmente com relação à higiene e necessidades veterinárias. Um animal mal cuidado pode transmitir doenças para seus donos e para todos em casa, crianças e adultos.


Segundo o veterinário Breno Camacho, as doenças mais comuns transmitidas pelos animais de estimação são a larva migras, também conhecida como bicho geográfico, no casos dos cães; e a toxoplasmose, com relação aos gatos. A primeira é transmitida por animais não vermifugados, quando esses defecam na areia, depositando larvas. “Aí, depois, quando uma criança vai brincar na praia ou em parques, as larvas penetram na pele. Em consultas de rotina, a pergunta mais freqüente é se o animal é vermifugado”, diz o veterinário.

Ele comenta que aos gatos é imputada a acusação de transmitirem a toxoplasmose. Breno Camacho explica que os felinos adquirem o vírus ao comer carnes mal passadas. A doença também é transmitida através das fezes contaminadas.

A principal causa da transmissão dessas e de outras doenças são os atos relacionados com falta de higiene dos donos dos animais. “A criança pega no gato e depois vai comer uma fruta sem lavar as mãos...”, exemplifica o veterinário. “Muitas vezes os animais são acusados de transmitir doenças quando a culpa é do próprio dono.”

Breno Camacho aproveita para reclamar do poder público no tocante ao controle de animais errantes, que vagam pelas ruas sem dono. Nesse caso, ele se ressente de um programa efetivo de castração. “Há também o caso de animais que têm donos e vivem pelas ruas, sem cuidados. E ainda aquelas pessoas que criam vários animais mesmo sem ter condições para isso.”

Centro de zoonoses

Rose Cléia Praxedes de Aguiar, veterinária do Programa de Controle da Raiva, do Centro de Zoonoses, informa que em qualquer dia da semana é possível levar o animal para ser vacinado contra a hidrofobia e obter informações de tratamento sobre outras enfermidades. Ela também classifica como as mais comuns, entre cães e gatos, a larva migras e a toxoplasmose. E dá dicas para um bom tratos dos bichos.

“Mantê-los sempre em locais limpos; dar uma alimentação correta; vacinar e vermifugar os animais; passear com eles, principalmente com os cachorros, pois, confinados, acabam ficando muito tristes e isso pode deixá-los predispostos a algumas doenças também”, diz ela.

Rose Cléia comenta ainda que a predisposição para doenças varia de acordo com a raça dos animais, referindo-se aos cães. “O tempo está mudando muito e nós estamos ficando gripados com mais facilidade. Isso pode afetar os cachorros também, principalmente os de menores porte como os yorkshires, os chamados cachorrinhos de madame.”

Para evitar as doenças transmitidas pelas fezes e urina, o mais recomendável, segundo a veterinária, é ensinar, desde cedo, o animal a usar a caixa de areia — dispositivo que pode ser feito em casa mesmo e que serve de “banheiro”. Já para a raiva, a melhor prevenção ainda é a vacinação anual.

A veterinária também condena as pessoas que costumam colocar seus bichos de estimação na cama onde dormem, já que o pêlo provoca e agrava reações alérgicas, principalmente em quem já tem pré-disposição a alergias. “Cada animal no seu próprio lugar”, sentencia Rose Cléia, acrescentando também que as reações podem variar de pessoa para pessoa, já “que cada um tem uma imunidade diferente”.

A higienização dos locais onde os animais habitam, tão apregoada, é alvo de uma observação bastante pertinente da veterinária do Centro de Zoonoses. Ela comenta que é preciso prestar muita atenção ao tipo de sanitarizante a ser usado. “Tem muito produto clandestino no mercado que não possui efeito bacterizante nenhum. É preciso comprovar a eficácia e preferir aqueles que têm registro nos órgão sanitários.”

Animais transmitem alergias

As alergias estão entre as maiores causadoras de ausência de funcionários no trabalho e de alunos nas escolas. E algumas delas, segundo o alergologista Roberto Pacheco, são causadas por ácaros e fungos presentes nos pêlos de animais domésticos; cães e gatos, principalmente. Penas de aves criadas em gaiolas também transmitem doenças — sendo ainda mais alérgenas que pêlos. Felinos e cachorros também possuem proteínas alergênicas na urina e na saliva.

Embora grande parte dos animais domésticos transmitam ou agravem alergias, principalmente tosse, asma, rinite e sinusite, Roberto Pacheco não acredita que se desfazer dos bichinhos seja realmente necessário. “Não é preciso radicalizar. O certo é conciliar. Estudos recentes indicam que manter um animal em casa pode favorecer o sistema imunológico, a sua maturação, principalmente o das crianças”, informa o médico.“É uma faca de dois gumes.”

A afirmação acima é baseada na Teoria da Higiene, que prega ser importante ter um animal em casa para que o sistema imunológico produza anticorpos para bactérias e vírus, desde que ele tenha o seu próprio local, mantido sempre limpo. “Se for apartamento, é ideal que seja na varanda; se for em casa, é fundamental fazer uma boa higienização e dar banho no animal pelo uma vez por semana”, recomenda Roberto Pacheco. “É prejudicial colocar o animal no quarto, na cama. É preciso ter critérios. Mas tenho pacientes que dormem com o gato na cama.”

As alergias têm aumentado bastante nos últimos anos, como afirma o médico, e a causa disso é o avanço da poluição externa (meio ambiente) e interna (ambientes fechados, com ar-condicionado e mal iluminados), sem contar com fatores emocionais e genéticos.

“Antigamente, crianças que viviam nos estábulos, em fazendas, tinham menos alergias porque o organismo desenvolvia defesas imunológicas. Aquelas confinadas em apartamentos ficam com os sistema imunológico preguiçoso, e ele termina se exercitando contra ácaros e fungos e não contra vírus, bactérias”, comenta Roberto Pacheco.

Entre os cuidados a serem tomados para evitar reações alérgicas, o médico também não recomenda o uso de travesseiros de pena, principalmente para pessoas já alérgicas.

O tratamento para alergias é feito à base de anti-histamínicos, por apresentarem boa tolerância, e ainda os corticosteróides — esses, porém, com critérios pré-estabelecidos devido aos efeitos adversos. Roberto Pacheco adverte que deve-se evitar a automedicação, principalmente para não se ter efeitos colaterais e dependências. As vacinas, segundo ele, se configuram como um novo alento, uma vez que aumenta a resistência e diminui a sensibilidade. “O tratamento com vacina é a longo prazo e dura uns dois anos. Em alergia, hoje é proibido proibir. Temos que nos adaptar e aumentar as nossas resistências”, conclui.

Mitos e verdades sobre doenças transmitidas pelos animais ao homem
Muito se fala sobre as doenças que são transmitidas pelos animais de estimação. Mas nem todas elas estão corretas. Confira algumas delas:

A mordida e a baba do cachorro transmite a raiva?
— Parcialmente correto: Os animais com hidrofobia (ou raiva) salivam muito por não conseguirem engolir a própria saliva. Apesar de a doença ser transmitida através da mordida do cachorro, apenas os animais infectados transmitem a raiva. Porém, a maioria dos cães não é portadora do vírus, principalmente os vacinados.

Cachorro que corre em volta do rabo é louco ou está com hidrofobia?
— Errado: Esse comportamento pode ser provocado por costume mesmo ou por um ataque convulsivo. Mas não indica que o animal está infectado pela raiva.

O gato transmite alguma doença para mulheres grávidas?
— Parcialmente correto: Gatos e pombos podem transmitir toxoplasmose para as pessoas; mas precisam estar infectados para tanto. Os gatos domésticos podem contrair toxoplasmose através da carne crua ou pela ingestão de pombos e outras aves. Sem apresentar sinais clínicos da doença, esses animais transmitem-na pelas fezes, quando estão com baixa resistência. As grávidas que contraírem toxoplasmose poderão ter sérios problemas com o feto.

Cachorro na praia transmite doenças?
— Parcialmente correto: Nem todos. Se o cão estiver com vermes e defecar na areia, os ovos microscópicos dos parasitas se transformarão em arvas; e essas, por sua vez, podem penetrar na pele dos banhistas causando o chamado “bicho geográfico”. Os cães vermifugados não transmitem as larvas.

Gatos transmitem asma para as pessoas?
Errado: Asma, bronquite, bronquite alérgica, bronquite asmática ou asma brônquica são doenças alérgicas, não transmissíveis. Crianças ou adultos portadores de asma podem ter crises ao entrarem em contato com os pêlos de gatos e outros animais. A pelagem ou os ácaros presentes nela são os responsáveis pelas crises.

Doenças mais comuns e prevenção:
Micoses (cão, gato e coelho):
Não deixar os animais dormirem em ambientes úmidos e manter o local sempre limpo. Queda de pêlo e áreas redondas sem pêlos são os sinais mais evidentes.

Doença da Arranhadura do Gato (DAG):
Lesão acentuada e indolor na pela, causada pela bactéria bartonella henselae, e que pode durar meses. No local da arranhadura, surge uma bolha consistente que desaparece logo. Mas dias depois surge uma gânglio acentuado e persistente. A infecção pode trazer conseqüências graves.

Sarna sarcóptica causada por ácaro (cão, gato e coelho):
Embora quando os seres humanos pegam sarcoptes scabiei dos animais, o mal é geralmente automedicável, causando somente uma coceira provisória nos pulsos, cotovelos, ou entre os dedos. Em crianças, a urticária pode aparecer na cabeça, no pescoço ou no corpo. Recomenda-se trocar a roupa de cama regularmente e dar banho nos animais a cada 15 dias.

Raiva (cão e gato):
A transmissão se dá pela mordida de animais infectados. O vírus da hidrofobia está presente na saliva. A melhor forma de prevenção é a vacinação anual, a partir dos quatro meses de vida.

Larva migras ou bicho geográfico (cão): Transmitido através do contato com areia contaminada com fezes de cães. Deve-se fazer exames de fezes no animal semestralmente e não deixar que eles defequem nas praias. Recolher sempre as fezes de seu cão nos passeios públicos das cidades (gramas, calçadas e parques), além do ambiente doméstico.

Doença de Lyme (doença do carrapato): Causada pela bactéria borrelia burgdorfi e é transmitida pelos carrapatos.

Alguns cuidados para prevenir doenças:
Não compartilhar cama e alimentos com os animais;
Evitar carinhos como beijos e lambidas muito próximos ao rosto, lábios, nariz e olhos;
Recolher fezes e urina dos animais o mais rápido para não deixá-las expostas a moscas e ao contato humano. O local deve ser desinfetado rapidamente;
Procurar sempre assitência médica ao ser mordido ou arranhado por gato ou cachorro;
Levar o animal periodicamente para consultas veterinárias quando ele apresentar comportamento estranho ou problema aparente de saúde.
Fonte:Tribuna do Norte On Line
Isaac Ribeiro - Repórter

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