quinta-feira, 10 de junho de 2010

Suipa sofre acusações e MP define o destino de seus animais

O momento pode ser crucial para uma discussão há tanto tempo adiada. Os abrigos realmente funcionam?




No último mês denúncias de maus-tratos e desvio de verba colocaram a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa) em evidência nos meios de comunicação e em discussões de protetores. Um dos mais tradicionais abrigos brasileiros está no banco dos réus.

Mas será que a culpa é da Suipa ou dessa fórmula comprometida em sua origem pela falta de recursos, orientação técnica e pela própria natureza dos animais que abriga? Como pode um abrigo dar conta do problema em uma cidade como o Rio de Janeiro, com 6 milhões de habitantes e estimados 1,2 milhões de cães?

A Suipa apresentou em seu site a triste matemática: a mortandade entre os animais recém chegados, em sua maioria filhotes, alcança 90%, ou seja, a cada 10 animais que entram apenas um terá a chance de sobreviver e, com sorte, ganhar um novo lar. Mesmo diante desses dados, nas discussões que tomaram as listas de protetores pouco se falou sobre a questão mais importante: onde entra o verdadeiro bem-estar animal nisso tudo?


É hora de mudar
“O triste episódio da SUIPA nos obriga a uma reflexão profunda, com a participação de ONGs – principalmente as internacionais, melhor respaldadas por estudos e experiências de outros países – órgãos de saúde, conselhos de veterinária, universidades, entre outros” diz Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil.

Segundo a nota de esclarecimento assinada pela presidente da Suipa, Izabel Cristina Nascimento, o abrigo carioca cuida de 3.500 animais, entre cães, gatos além de outras espécies, sendo necessário 37 toneladas de ração por mês para alimentá-los, gastos com medicamentos, produtos de limpeza e o pagamento da folha salarial de 155 funcionários, sendo 30 veterinários. Apesar de contar com 13 mil associados que financiam o local com um montante de R$342.851,00, o déficit da entidade é de R$78 mil todos os meses.

Ainda de acordo com Izabel, que está a frente da instituição desde 1993, são inseridos nesse cenário desolador e cheio de dívidas, 40 animais carentes diariamente. Para a Suipa não existe a palavra não, por normas do seu estatuto a entidade se recusa a fechar as portas para qualquer bicho.

Seria então a Suipa um oásis para os animais errantes da capital fluminense? Infelizmente não.
“É triste, mas assim como outros abrigos em contextos semelhantes ela surge como um tapete, embaixo do qual a sociedade empurra seus cães e gatos indesejados”, resume Ciampi.



“A ilusão dos abrigos”
Atire a primeira pedra quem, apaixonado pelos bichos, nunca pensou em criar um abrigo para cuidar de animais carentes. Este é o nobre sonho de muitos indivíduos bem intencionados, mas a realidade de abrigar devidamente cães e gatos sem lar está muito longe de ser algo simples. Principalmente sem dimensionar o tamanho do problema, ou seja, os animais gerados pela sociedade local, sem uma política de controle populacional, registro e educação sobre posse responsável. E de repente, o mais bonito dos sonhos vira um enorme pesadelo.

Em 2005 a jornalista e protetora dos animais, Ana Lúcia Leão, escreveu o artigo “A ilusão dos abrigos” e, em poucas palavras, resumiu o que já era apontado como problema na época:

“Abrigo não é solução, é problema gerado pelo descaso social. Do lado oposto de quem sonha montar um, existe a crença das pessoas em geral de que basta pegar um animal na rua e metê-lo num abrigo para resolver o problema. Se visitassem algum abrigo dos muitos existentes por aí, veriam a triste realidade: Dezenas, até centenas de animais se digladiando por comida, muitos doentes, e até casos de canibalismo gerados pela fome” – trecho do texto “A ilusão do abrigo”.

Em março de 2009 um dos mais tradicionais abrigos de São Paulo, Quintal de São Francisco anunciou que fecharia suas portas. Desde então trabalha para conseguir pagar suas dívidas e o mais delicado, doar seus animais. Segundo o blog da instituição, 223 animais precisam de um novo lar e a dívida a ser paga gira em torno de R$90 mil. O texto destaca que o fechamento tem provocado críticas, em suma, pessoas que não aceitam que a entidade tenha paralisado o recolhimento de animais.

“O que a sociedade não vê, está muito claro para nós que lidamos com o problema 24 horas por dia: em vez de abrigo, dar lar transitório, uma casa de apoio. O animal é tratado, vacinado, esterilizado e doado. E isso, por vezes, demora meses”, aponta Ana Lúcia Leão no artigo “A ilusão do abrigo”.

O brasileiro é apaixonado por seus pets, mas ainda não incluiu entre suas responsabilidades a esterilização de cães e gatos para evitar crias indesejadas, não os registra, abandona diante de qualquer dificuldade e incentiva a indústria de filhotes. Em suma, prefere fechar os olhos para o problema do que entender que por mais abrigos que tenhamos no país, nenhum conseguirá enxugar esse gelo...


Fonte:Arca Brasil

Nenhum comentário: