sábado, 7 de julho de 2012

Criação de gatos em lares brasileiros cresce mais, apesar de cães ainda dominarem


Estimativa é de que população de felinos domesticados no país cresça o dobro em relação aos cachorros em 2012

mila Almeida
kamila.almeida@zerohora.com.br



Gatos já levaram pessoas a julgamento nos tempos da inquisição, por estarem relacionados à bruxaria durante a Idade Média. Na cor preta, viraram sinônimo de mau agouro. Contrariando a história e as superstições, a personalidade dos felinos vem fazendo com que cada vez mais lares sejam abertos para criá-los como membros da família.

Ainda que a população de cachorros seja bem maior que a de gatos nas casas brasileiras — 35,7 milhões contra 19,8 milhões — estes últimos ganham espaço. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) é de que, em 2012, haja o dobro do crescimento da presença dos gatos com relação à de cães.

Os dados não surpreendem a veterinária Lorena Eva Bigatti, proprietária de uma pet shop de Porto Alegre. Ela diz que em todos os cursos dos quais participa, o lema de que o futuro pertence aos gatos vem sendo propagado.

— Geralmente quem opta pelos gatos tem mais de um. Eles também têm frequentado as pet shops, e os profissionais precisam estar preparados para atendê-los em todas as esferas — diz Lorena.

Escolha do mascote depende do dono

Foi o que fez a veterinária Fernanda Vieira Amorim da Costa, professora da UFRGS e dedicada ao estudo da Medicina Felina:

— A vontade de ter um companheiro, somada à falta de tempo para cuidar de um animal, acrescida da verticalização das residências, fez com que os gatos ganhassem mais espaço nos lares. Nos EUA, o número de felinos já ultrapassou o de cães. A tendência é de que o Brasil se aproxime dessa realidade.

Flávia Souza de Aguiar, 55 anos, entrou nessa onda. Tinha uma cadela da raça labrador quando morava em casa. Há 14 anos se mudou para um apartamento. Não poderia levar o cão, mas nem pensava em ficar sem um bichinho. Ganhou um gato. Encantou-se. Hoje tem dois: Boris, apelidado de ruivão, de oito anos, e Kika, uma gata persa de cinco anos.

— A grande vantagem é que eles são autolimpantes. Só levo para cortar as unhas e banho é uma vez por ano — conta Flávia.

Todo esse frisson voltado aos bichanos não tem nada a ver com aversão aos cachorros. Tem espaço para todos. Na visão da veterinária e doutora em Psicologia Ceres Faraco, será crescente a necessidade de inserção de animais na sociedade:

— Somos seres sociais. Gatos e cachorros, também. A escolha de qual será esse bicho de estimação vai depender é da personalidade do seu dono.

Por que gatos?

O gato de Tatiana Gomes Filippe é preto. Tem amigo dela que estranha o fato de ela ter um gato, que dirá preto. Mas Duffy é muito mais do que um mascote, é o companheiro de Tatiana. Considera-se sortuda pela opção.

— Ele toma café da manhã comigo, me espera para a janta, chego a hora que for e não dorme enquanto eu não me deitar. Brinco que é uma mola: se eu não quero que ele fique comigo, boto no chão e ele volta — conta.

A fonoaudióloga já teve um cachorro de grande porte quando morava em Santa Maria. Gostava, mas, para ela, os movimentos bruscos e a atenção que ele exigia eram exagerados. Quando veio para Porto Alegre, há 20 anos, optou por um gato e comemora a decisão ao observar a delicadeza e o carinho de seu persa.

— Duffy fica sozinho o dia todo, não faz barulho, não incomoda ninguém. Chego cansada e não preciso descer com ele para que faça as necessidades. Tirando as bolas de pelos que ele solta pela casa, é perfeito — diz Tatiana.

Como o filho de Tatiana tem 28 anos e já está casado, Duffy passou a ser a criança da casa. É cheio de vontades:

— Não quero saber de outro animal aqui em casa. Já tentei um peixe. Depois, tirei uma cria dele e fiquei com um filhote. Ele pegava o filho e largava na porta de casa. Não pude ficar com ele também.

Por que cães?

Camila Domingos Machado, 30 anos, sofreu um baque quando a cadela Cindy morreu, há sete anos. Demorou até que a família se encorajasse a ter um novo mascote. Faz nove meses que Chico, um shih tzu, foi parar na casa dos Machado e, desde então, vive como um rei.

— É cheio de brinquedos e de vontades. É tratado como da família. Dorme do lado da minha cama e ronca como uma pessoa — brinca.

Apesar de gostar de todos os bichos, Camila nunca quis ter um gato. Acha que o cachorro combina mais com o temperamento dela: agitado.

— O gato é muito independente e chega perto quando quer. Acho o cachorro mais simpático. Está sempre disposto a brincar, dá para passear no parque. Nunca me sinto sozinha agora que tenho ele. É só eu chegar em casa que ele faz uma festa. Até se engasga — conta, aos risos.

O trabalho de ter de levá-lo para a higiene a cada 15 dias e a necessidade de um tempo para passear e gastar as energias de Chico só animam a família. A paixão impede que se enxergue qualquer defeito no pequeno. Até quando rouba as roupas das gavetas e sai correndo, vira atração no lar.

— Ele alegrou a nossa casa — concordam os Machado
Jornal Zero Hora

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