Nem ela acreditava. Ao menos, sabia que não faria feio. Estava contentada em divulgar a sua causa. Amparada pelas sólidas relações construídas em anos de luta pela defesa dos animais, cogitava fazer cerca de três mil votos, o que lhe permitiria sair da eleição de cabeça erguida.
Foto: Félix Zucco.
No domingo da eleição, quando já despontava como uma das eleitas logo após o início do escrutínio, Lourdes Sprenger (PMDB) recebeu uma ligação do vice-prefeito eleito Sebastião Melo, responsável por convidá-la para concorrer pela primeira vez em 2012.
_ Arrancaste bem, hein? _ indagou Melo.
No final da apuração, Lourdes alcançou 4.402 votos e garantiu-se como a titular da quarta e última cadeira conquistada pelo PMDB na Câmara de Porto Alegre. Na casa em que vive no bairro Assunção, na Capital, a auditora de 60 anos cria cinco cães e seis gatos. Um sexto cachorro, Tyson, está na residência da vereadora eleita apenas de passagem. Ela o resgatou na ERS-030, junto a uma ninhada que já foi doada. Tyson, uma mescla de rottweiler com vira-lata, ainda aguarda um novo lar. O cão de pelo escuro ganhou o nome porque, em momentos de brincadeira, gosta de morder a orelha das pessoas. A característica lembrou o ex-boxeador Mike Tyson, que arrancou pedaços da orelha do adversário Evander Holyfield em um combate.
Peemedebista há dez anos, Lourdes cria bichos desde a infância em Glorinha. Nas tarefas de proteção, acolhimento e castração de animais, se relaciona com ONGs, mas atua de forma independente.
Em 2003, ela se agregou ao Fórum de Bem-estar Animal da Câmara de Vereadores. A contribuição do grupo foi fundamental para a aprovação, em 2006, do Programa de Proteção dos Animais Domésticos de Porto Alegre. A lei substituiu o método cruel de execução de bichos de rua pelo acolhimento e doação.
Na Câmara, Lourdes pretende cobrar a aplicação de programas de amplo alcance de esterilização _ para reduzir as superpopulações _, além da criação de um cadastro de animais de rua com o uso de chips. As políticas, diz a futura parlamentar, não são apenas uma questão de carinho. Elas evitam acidentes de trânsito, proliferação de zoonoses e ataques de animais a pedestres.
_ Fazemos muito, mas ainda é pouco perto do tamanho da população animal _ diz Lourdes, que diz ter gasto menos de R$ 20 mil na campanha, contando sobretudo com o apoio de amigos e com a disseminação de propostas pelas redes sociais.
(Carlos Rollsig)
Jornal Zero Hora 21.12.2012
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