Festa do índio em Bertioga tem artesanato com parte de animais silvestres.
SÃO PAULO - Representantes de 15 etnias indígenas protestaram contra o Ibama neste domingo no Forte São João, durante a Festa Nacional do Índio, em Bertioga, litoral paulista. Eles reclamam da decisão do Ibama de proibir a venda de peças de artesanato feitas com partes de animais silvestres, tomada na última sexta-feira.
Apesar da proibição, os indígenas continuaram a expor e a vender os produtos em uma tenda montada na praia da Enseada. O prefeito de Bertioga, Layrton Goulart, participou do ato e afirmou que iria escrever um manifesto de repúdio à atuação do órgão ambiental.
- O índio mora na mata, ele tem o direito de explorar aquilo que está na reserva dele. Quando ele mata o pássaro, não mata por causa da pena. Ele mata para comer. E sobra a pena (usada no artesanato).A mata é deles. Nós não temos o direito de interferir mais do que já estamos interferindo - disse ele.
O representante da Funai em Bertioga, Márcio José Alvim do Nascimento, também defendeu os índios e disse que eles não contam com o apoio dos órgãos públicos quando há crianças doentes nas aldeias.
O índio Ubiratan, da aldeia Bananal, de Peruíbe, afirmou que eles extraem o alimento desses animais e não jogam fora as sobras.
- Essa caça é feita de forma consciente, não é todo dia que se caça; respeitamos a época de procriação.
A gerente regional do Ibama em Santos, Ingrid Maria Furlan Oberg, esteve na Festa do Índio e afirmou que Prefeitura e Funai serão autuadas por não cumprirem um acordo firmado na sexta-feira. Segundo ela, ambos se comprometeram a não permitir mais o comércio de artesanato com partes de animais.
A partir da constatação de que tal comércio continuou, a gerente disse que irá encaminhar um auto de infração a ambos.
- Não vamos recolher as peças hoje (domingo) para não estragar a festa - afirmou.
Conforme a gerente, Prefeitura e Funai haviam sido informadas sobre a proibição de vender
Segundo Ingrid, a Polícia Federal constatou que comunidades indígenas estavam caçando animais silvestres para fazer artesanato e vender fora do País. A resolução que veio após essa ação, de acordo com a gerente do Ibama, proíbe o comércio que não faz parte da cultura indígena. Ingrid afirmou que é possível fazer artesanato tupi-guarani com penas pintadas de galinha e de pato, mas havia nos produtos penas de araras mortas.
- Não se pode permitir que haja um estímulo ao comércio, com uma caça além do necessário, por conta de um comércio que não é da cultura deles, que é uma coisa do branco - diz ela.
Já em 2007, segundo a representante do Ibama, foi constatado o comércio de artesanato feito com partes de animais ameaçados de extinção na Festa do Índio. As denúncias foram recebidas e o Ibama entrou em contato com a Funai e com representantes da prefeitura para que orientassem os índios a não vender este tipo de produto.
Nascimento diz que o que interessa para os índios é justamente ir à festa para vender artesanato. A multa para cada peça apreendida é de R$ 500,00 mais R$ 3 mil a R$ 5 mil se for feita com parte de animal ameaçado de extinção. Ingrid irá estudar um valor menor para a multa, já que os produtos não foram apreendidos.
A Festa Nacional do Índio em Bertioga está em sua oitava edição e vem sendo incorporada ao calendário turístico da cidade.
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Tribuna Online
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