segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vivissecção: como tudo começou – parte 3

Em seu histórico do desenvolvimento da vivissecção, que é o uso de animais para fins de produção de conhecimento, os médicos Ray e Jean Greek fazem referência a alguns avanços importantes na medicina, nos quais a pesquisa foi prejudicada, e não favorecida, pelo uso do "modelo animal". Como os autores enfatizam, os avanços ocorrem independentemente da vivissecção, e muitas vezes apesar dela.


Veja-se o caso de Louis Pasteur. Este pesquisador, originalmente um químico, foi o responsável pela superação da "teoria da geração espontânea". Acreditava-se que organismos vivos podiam surgir espontaneamente em certos meios, inclusive o organismo humano, sendo esta a causa de muitas doenças. Como afirmam Ray e Jean Greek, foi com base em "observação e raciocínio, e não pesquisa com animais", que Pasteur "propôs que a doença pode ser causada por microorganismos que são transmitidos de pessoa para pessoa". Esta idéia, hoje chamada "teoria dos germes", surpreendeu a sociedade da época e já foi considerada como "a maior contribuição individual para a medicina em todos os tempos". Não só permitiu que se prevenisse a contaminação por microorganismos em hospitais, residências, etc, mas também conduziu a pesquisa para o domínio do microcosmo, cujo funcionamento é de importância crucial nos processos de doença e saúde.

Entretanto, Pasteur cometeu um erro ao acreditar que um microorganismo podia afetar diferentes espécies da mesma maneira. Na verdade, ainda que contamine diferentes espécies e cause doenças parecidas, a forma como o faz tem particularidades que tornam incerto estabelecer comparações. Incapaz de perceber o erro em sua época, Pasteur tentou produzir uma vacina contra raiva, da seguinte maneira:

Ele tirou tecido da medula espinhal de cães infectados e fez o que pensava ser uma vacina. Desafortunadamente, a vacina não funcionou como o esperado e resultou em mortes de humanos. Mas esta falha grosseira não tirou a confiança no uso de animais em laboratório. Na verdade, a única experimentação animal bem-sucedida que Pasteur realizou foi em benefício de animais. Ele estudou antraz em gado e cólera em galinhas e descobriu vacinas para prevenir a doença nestes animais.

Como os autores mostram mais adiante, os avanços que ocorreram até hoje em medicina devem-se a métodos bem diferentes do uso de animais. Considerar que animais são humanos em miniatura é se expor a confusões que muitas vezes arriscam vidas de pessoas. Ainda que se reconheça a boa intenção daqueles que agem assim, ignorar recursos efetivos em nome do costume superado de usar animais é fechar os olhos à realidade. Veremos outro exemplo de pesquisa prejudicada pela vivissecção a seguir.

E então, poderemos comentar os problemas relativos às leis e aos diversos interesses que perpetuam esse erro em nossos dias.
Referência:
Ray & Jean Greek. Sacred cows and golden geese: the human cost of experiments on animals [Vacas sagradas e gansas dos ovos de ouro: o custo humano de experimentos em animais]. (Capítulo 2) Continuum International Publishing Group, 2003.

Gratos pela atenção,
CPDA - Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais

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