quinta-feira, 15 de abril de 2010

Capital da Copa não pode ter carroças - Mato Grosso

Cuiabá, deliciosa capital mato-grossense, encontra-se hoje em francos preparativos rumo à Copa 2014.


Logo veremos um sem número de empreendimentos estruturais eclodindo nos quatro polos da cidade, que, pelas previsões técnicas, irá se transformar numa metrópole de proporções ainda mais respeitáveis, avanço progressista proporcional a uns 50 anos, no mínimo.

Tanto é verdade que instituições governamentais e não governamentais já unem forças para que Mato Grosso (representado por Cuiabá) se situe entre as sedes destacadas dos jogos do maior certame futebolístico do Planeta. Não se admite que Cuiabá fique à retaguarda das demais capitais escolhidas pela exigente Fifa.

As exigências da Fifa, aliás, são extensivas a todas as cidades brasileiras que sediarão jogos da Copa, e incluem benfeitorias diversas, além de viadutos de última geração, traçado inteligente de ruas e avenidas, bem como o fechamento de estabelecimentos comerciais, com vários deles sendo literalmente patrolados para ceder lugar a dinâmicos polos empreendedores dos setores turístico/hoteleiro e de entretenimento.

Em resumo, a Fifa quer uma Cuiabá moderna para receber a Copa. Mas, e quanto às carroças, veículos que invadem sem cerimônia suas ruas centrais e bairros? Elas significam um legítimo retrocesso da Capital aos tempos embrionários, e já não emprestam nenhuma melancolia ao trânsito, pelo contrário: têm é complicado a vida de motoristas e pedestres, além dos costumeiros shows diários de espancamentos que os carroceiros promovem nos quadrúpedes escravos.

Para os visitantes à Copa, tais cenas serão impactantes, revoltosas. Dezenas de milhares de turistas vão ficar estarrecidos ao assistir essa legião de carroceiros torturadores praticar impunentemente seus crimes. Com muita lógica, a maioria não irá entender o porquê de as autoridades militares e judiciais fecharem os olhos para tais arbitrarieades, punidas a ferro e fogo em outros pontos do Planeta. Infelizmente, não todos. Que o digam a Dinamarca, Japão, China, Coréia e Austrália, exterminadores de golfinhos, baleias, cães e cangurus...

O que importa é que o bom exemplo deve começar daqui, de Cuiabá. São Paulo e outros estados brasileiros já não aceitam circos que utilizam animais nos seus espetáculos de tortura. Também deve(ria) ser baixada uma lei para banir de vez a utilização de quadrúpedes na Capital e, se possível, em todo o Estado mato-grossense. Afinal, escravizar animais para torturá-los à base de chicotadas, pauladas, sede, fome e carga descomunal é inconcebível em tempos de defesa da ecologia, como um todo. Sem falar no descompasso progressista que uma carroça empresta no meio do trânsito da cidade...

Trata-se, assim, de uma medida justa para os animais e correta do ponto de vista do atraso que a utilização de carroças representa num cenário que quer parecer moderno para receber uma Copa do Mundo. O ideal seria que todas as cidades sedes da Copa fizessem o mesmo, e aí já seria um passo para o Brasil inteiro proibir o trânsito de carroças. Na zona rural, elas poderiam ser substituídas pelos Baco-Baco (veículos à base de motores estacionários), ainda alvo de portarias proibitivas à sua utilização.

Lógico que existem os defensores dos carroceiros torturadores. Os que fingem não ver éguas prenhas arrastarem cargas incompatíveis à sua capacidade física, e ainda apanharem para ser mais rápidas. Existem ainda os que ignoram quadrúpedes sedentos e famintos, amarrados em postes e sob sol forte, enquanto seus pretensos donos (ninguém é dono da vida, só Deus) tomam cachaça. Ou aqueles que fingem não ver as feridas abertas nos seus flancos e as bocas rasgadas sangrando pelos ferros ali atravessados...

Já defendi uma égua que abortou em plena via pública, incapacitada para subir uma rampa com a carga que depositaram na carroça. O carroceiro assassino, sem cerimônias, espancava o animal ensanguentado com vigor, desferindo-lhe pauladas e chicotadas, enquanto todos assistiam calados. E a égua lá, fraca até para emitir algum relincho de dor, calada à tortura bestial do dito ser humano.

Para azar desse torturador, consegui aplacar sua "valentia" irracional. Apliquei-lhe mais do que umas recomendações verbais, mas físicas. E a Polícia fez o resto, a meu pedido. Foi a primeira vez que vi um homem urinar nas calças, em público...

Enfim, se essas cenas são normais para os brasileiros, não esperem que os visitantes da Copa as compreendam!


João Carlos de Queiroz é ecologista, é jornalista profissional.
E-mail: jcqueiroz1@bol.com.br
Fonte: EVocE Opinião

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