sábado, 29 de maio de 2010

Cães e aves são usados no tratamento de idosos com Alzheimer e crianças portadoras de necessidades especiais

Sentadas em cadeiras de plástico no pátio interno de uma casa de repouso no Grajaú, seis idosas aguardam o início de mais um trabalho de fisioterapia.


Antes da chegada dos profissionais, o ambiente é silencioso e melancólico: algumas não conseguem sequer se manter sentadas sem a ajuda da cuidadora. Mas o clima está prestes mudar: quando Gregório, Kuka, Pixote, Skip, Tita, Belle, Babi, Bob e Billy chegam, as senhoras - todas com variados graus do Mal de Alzheimer - começam a sorrir. Os responsáveis pela transformação são os cães e calopsitas do Projeto Pelo Próximo, "pet terapeutas" que trabalham levando alegria a pacientes internados em instituições do Rio de Janeiro.


Veja como os cães trabalham no asilo.

Trabalho é feito nos horários livres dos voluntários
Desde que foi criado, há cerca de um ano, o "Pelo Próximo, solidariedade em quatro patas", já visitou quinze asilos, casas de repouso e espaços para crianças com cãncer. O grupo é composto por 23 cães, duas calopsitas e 35 pessoas - os donos dos bichos, que atuam como voluntários. Ninguém recebe pelo trabalho, que dura cerca de duas horas e acontece preferencialmente nos fins de semana.

- Trabalhamos por amor ao próximo, nas nossas horas vagas - explica a psicóloga Roberta Araújo, coordenadora do projeto, que, antes de criar o Pelo Próximo, atuava num serviço parecido, de onde trouxe boa parte da "mão de obra" humana e animal.

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Ao pentear o cão ou jogar a bolinha, o idoso está treinando para voltar a pentear o próprio cabelo ou a segurar um garfo
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No meio científico, o trabalho é chamado de Atividade Assistida por Animais (AAA), uma visita em que os bichos, com auxílio de voluntários, fazem os pacientes praticarem pequenos exercícios brincando. A sessão começa com a apresentação dos pets. Em seguida, os doentes são estimulados a fazer carinho e pentear os cães e realizam atividades como jogar bolinhas e segurar os bambolês por onde os cachorros pulam. No fim, os cães treinados fazem um show dog.

- No dia da visita, muitos vestem as melhores roupas para participar. Isso tem, sem dúvida, efeito benéfico sobre a auto-estima. Sem falar nas melhorias físicas, pois, ao pentear o cão ou jogar a bolinha, o idoso está treinando para voltar a pentear o próprio cabelo ou a segurar um garfo - explica a terapeuta ocupacional Luciana Nunes, de 43 anos, que trabalha como voluntária com o labrador Aaron, de 1 ano e 8 meses, e o chiuaua Skipper, de 5 meses.

Nas visitas às instituições infantis, a brincadeira de médico entra em cena: as crianças, usando máscaras de cirurgia e estetoscópios, fazem de conta que são veterinários, auscultando o coração e os pulmões dos cães. Há dois meses, duas calopsitas, Billy e Bob, juntaram-se ao grupo. Elas estimulam o equilíbrio e a sensibilidade, principalmente dos idosos.




- Comos as aves são frágeis, quem as segura precisa ter o máximo de cuidado - diz Roberta, lembrando que o projeto tem apoio da sessão Rio da Associação Brasileira de Alzheimer.

Para fazer parte do grupo, o bicho e o proprietário precisam ser avaliados:

- O animal precisa estar em ótimo estado de saúde e ter bom temperamento. Já o dono tem que ter estrutura psicológica para aguentar a barra de ver pacientes muito doentes sem dar sinais de estar abatido - explica.

A dona de casa Carla Belo, de 44 anos, que desde janeiro participa do projeto, sabe a importância da sintonia entre animal e guia. Numa visita a um asilo na Zona Norte, Carla emocionou-se ao lembrar da mãe, falecida pouco tempo antes, e sentiu uma vontade forte de chorar. Gregório, o labrador de 2 anos e meio com quem ela trabalha, ficou dividido. Não sabia se dava atenção aos idosos ou à dona:

- Ele percebeu que eu estava sofrendo. Saí e chorei muito. Mas depois disso eu trabalhei bem a história na minha cabeça e percebi que nosso papel é levar alegria e conforto para aqueles doentes - concluiu Carla, que levou a filha de 18 anos para o trabalho voluntário.

A assistente social Rita de Cássia Maia Ribeiro, de 56 anos, sócia da Pousada Residencial para Idosos, que tem 26 idosas com Mal de Alzheimer, já percebeu resultados positivos em suas hóspedes depois de alguns meses de contato:




- Algumas idosas que sequer falavam, depois de meses de convívio com eles passaram se expressar - diz.

Engana-se quem pensa que só os pacientes são recompensados. Os voluntários contam que se sentem mais leves depois das visitas. E os animais ficam bem menos estressados depois deste período de trabalho.

- Para os cães, é uma troca - explica Carlos Henrique da Silva, 41 anos, adestrador do projeto - E qualquer cão, independente da raça, pode fazer parte. O importante é ser dócil e equilibrado.

Experiência familiar inspirou pesquisa
Enquanto o projeto Pelo Próximo atua como uma facilitador da terapia, o projeto Nino, criado em 2003, faz a Terapia Assistida por Animais (TAA). No programa, que trabalha principalmente com crianças com necessidades especiais, são usados dois cães da raça cocker spaniel, treinados especialmente para a função.

- A diferença é que eles fazem uma visita terapêutica e nosso projeto faz terapia. Nosso trabalho é focado na pesquisa, com estudo e acompanhamento de casos - explica o veterinário Heverton José Gonçalves, de 36 anos, criador do projeto.

As visitas às instituições, acompanhadas por um fisioterapeuta e um veterinário, acontecem no mínimo duas vezes por semana. Nas sessões, que duram cerca de 40 minutos, as crianças trabalham individualmente. Os exercícios, assim como no Pelo Próximo, são lúdicos. As crianças jogam bolas, abraçam os cães...

O projeto Nino, nasceu a partir de uma experiência familiar de Heverton. Sua sobrinha nasceu com síndrome de Down e, ao observar os efeitos positivos do contato da menina com o cãozinho da família, ele decidiu pesquisar o assunto.

- Pesquisei por dois anos e consegui o Nino, que foi treinado. Em seguida, veio a Dona. Os dois estão há sete anos comigo - conta - É uma atividade lúdica, em que a criança esquece as dores e resistências, e faz os exercícios de fisioterapia - ensina Heverton, que prestou serviços por quatro anos para o Instituto Veras e agora está em conversação com uma instituição pública municipal.
Fonte:O Globo
Projeto Pêlo Próximo



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