Só o HPS da Capital atende, por dia, cinco pessoas vítimas de cachorros
Ao atacarem crianças no Vale do Sinos e uma idosa na Região Metropolitana em três casos de repercussão, cães despertaram os gaúchos para um problema corriqueiro no Estado. Só no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, um dos principais centros de urgência do Rio Grande do Sul, os médicos fazem uma média de cinco atendimentos diários a vítimas de cachorros. Outras instituições gaúchas também recebem dezenas de feridos pelos animais todos os dias.
A repetição de casos evidencia, segundo especialistas, que a explicação aos ataques vai além da ferocidade dos cães. Também está no despreparo dos donos. Para o vice-presidente do Kennel Clube do Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Zindulis, as pessoas costumam ignorar que os cachorros, mesmo os aparentemente inofensivos, precisam de adestramento. O treinamento ajuda a melhorar e a controlar o comportamento dos cães, mas serve também para que os proprietários os conheçam e até identifiquem aqueles com desvios de temperamento.
- Não faz sentido uma pessoa ter um cão de guarda num apartamento ou um cão de luxo para cuidar da casa - afirmou Zindulis, que acredita na mistura exagerada de raças como causa da agressividade de uma parcela dos animais.
O adestramento ainda ensina as pessoas a tratar seus animais, o que reduz as chances de casos raros: o ataque de cães contra os próprios donos, como aquele que feriu Maria da Glória Ribeiro, 81 anos, em Canoas no dia 10.
O criador, adestrador e veterinário André Rafael Plentz afirma que situações como essa são incomuns porque o cão tem, como sua natureza, proteger o dono:
- É difícil explicar uma situação assim. Tanto que, quando isso ocorre, o animal se sente humilhado, lambe a pessoa como se pedisse desculpas.
Lei entrou no rol daquelas que não saíram do papel
A solução hiberna, há quase dois anos, nos escaninhos burocráticos. Em novembro de 2005, o então governador Germano Rigotto sancionou uma lei que obriga o adestramento e impõe restrições na circulação e no trato dos animais.
A medida proíbe os cachorros em praças e parques, impõe o uso de focinheira e guia nas ruas, além de determinar o cadastro de cada exemplar considerado perigoso. Como não determina a entidade responsável pelo registro, o órgão de fiscalização e valores de multa para infratores, ela terminou no rol das leis que não saíram do papel.
No fim de 2006, o governo gaúcho chegou a enviar aos deputados estaduais um projeto para regulamentação, que atribuía ao Kennel Clube o cadastro e deixava a vigilância a cargo da Brigada Militar e das guardas municipais. Não houve avanço: os parlamentares não tiveram tempo para avaliá-lo antes do fim do ano legislativo, quando as propostas sem discussão acabam arquivadas por determinação legal.
Diante dos ataques dos últimos dias, o deputado Giovani Cherini (PDT) encaminhou esta semana uma solicitação para o desarquivamento do projeto ao Palácio Piratini. Por meio de sua assessoria, a Casa Civil avisou que seus advogados avaliam a possibilidade, mas não descartam a possibilidade de sugerir outra proposta. Só que não há prazo para a definição.
Por JAISSON VALIM
Fonte: Zero Hora
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