Atividades esportivas
Nenhuma morte pela tarde
Para os aficionados, a tourada não é um esporte, exceto no sentido skakespeariano de diversão. Pode não ser a sua idéia de diversão (ou a do touro),
mas muitos portugueses são apaixonados por essa tradição que, como eles gostam de rapidamente apontar, possui mais de 2 mil anos. Uma grande subcultura cresceu a seu redor, ligada ao mundo rural, que vem perdendo ano a ano sua influência na sociedade, e ainda baseada em conceitos rígidos de classe.
Assim como os britânicos contrários à caça à raposa, os portugueses fizeram pequenos, porém barulhentos, protestos na Praça de Touros de Lisboa. Mesmo assim, ela foi reaberta, em maio de 2006, após um hiato de sete anos. Era comum que certos segmentos da sociedade portuguesa tentassem ignorar a manifestação. A reação aos gritos foram ferozes – ‘Eu respeito a opinião deles: por que diabos eles não podem respeitar a minha?’ – e lembravam a argumentação dos defensores da caça: ‘Eles não entendem as tradições do país. Nós é que amamos os animais’. É verdade que em Portugal - ao contrário da Espanha - é proibido matar o touro na arena (apesar de ele ser morto depois); ou seja, as clássicas touradas portuguesas deixariam Ernest Hemingway desapontado. Mesmo assim, elas continuam sangrentas. O espetáculo começa com um homem vestido de cavaleiro do século 18, montado em um elegante cavalo Lusitano, jogando pequenas lanças no touro. Depois, os forcados entram na arena – meia dúzia de homens a pé que lutam com o touro. Para muitos, esses amadores são os verdadeiros heróis, mesmo que os chifres do touro tenham sido previamente retirados.
Há muito tempo que as touradas perderam o apelo popular, mesmo antes da chegada da TV e apesar de ainda serem um importante evento em cidades como como Montijo (Praça de Touros, 21 231 0632), ao sul do Tejo. A reabertura de uma arena em Lisboa pode ser vista como uma renovação da tradição. A maioria das agências vendeu ingressos para a temporada 2006, mas ao menos uma desistiu da empreitada após uma enxurrada de e-mails de protesto. Por um século a arena foi bem-utilizada apenas para touradas, mas depois da reforma de €50 milhões – que anexou a ela um shopping center e o maior estacionamento de Lisboa -, hoje ela só é viável se for usada para outros eventos.
Os visitantes que quiserem ver mais ação podem ir à Vila Franca de Xira (posto turístico 263 285 605, www.cm-vfxira.pt), 20 minutos ao norte, onde são criados touros e cavalos Lusitanos. Esse local organiza vários eventos, com destaque para a feira de outubro, cheia de música, comida e bebida, e uma corrida de touros ao estilo da de Pamplona, na Espanha.
Fonte:Time out
Um comentário:
Ora, uma Tourada é sempre uma coisa: didáctica para as crianças e para os adultos também. Nem que seja para lembrar ao pessoal humano que esta coisa do mundo que nós temos hoje é uma coisa muito cómoda e confortável. Está tudo, ainda que falemos de caos e etc, devidamente organizado. Não corremos riscos de nos depararmo-nos com um touro quando saímos de casa, um lobo, um lince etc... como os avós dos nossos avós e os antepassados de todos eles.
Mas que agora, quando saímos de casa, as coisas passam-se como na tourada: (utilizando a moral de um anúncio publicitário, do qual desconheço a autoria, e que definia o espectáculo) “convidam-nos para a festa e apunhalam-nos pelas costas” ( e tinha em grande plano um touro). É! Andamos o tempo todo a dizer às criancinhas que a vida é uma festa, quando elas derem por isso têm mais ferros espetados nas costas que qualquer touro de tourada traumatizante de se ver num domingo à tarde antes da hora jantarmos todos - os vegetarianos e os senhores da herbalife inclusive - qualquer ex-ser-vivo do planeta.
Vale!
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