Júnior Dantas é empresário e dedica parte do seu tempo, e dinheiro, no cuidado aos cachorros que foram abandonados pelos antigos donos. Atualmente, ele cuida de mais de 150 animais
Empresário Júnior Dantas não deixa que os cães fiquem expostos aos perigos da rua e maus tratos dos donos
Limoeiro do Norte. O bicho homem tem uma relação de amor e ódio com os outros bichos. Mas o cachorro tem lugar especial: de vigia e serviçal, para muitos um vilão, a animal de estimação, dentro de casa. Se o homem é capaz de abandonar e maltratar outro homem, que dirá com os animais, revirando latas pelas ruas. Mas o cargo de “melhor amigo do homem” é encarado à risca por muitos donos de animais. O Diário do Nordeste tem denunciado problemas de crimes envolvendo maus-tratos com esses animais no Interior do Estado, onde um canil ou centro de zoonoses são estabelecimentos raros. Mas foi possível encontrar personagens como um empresário de Limoeiro do Norte que, voluntariamente, cuida de mais de 150 cachorros das mais diversas raças.
Em comum, o passado de abandono, fome e agressões, e o presente de “luxo” em um verdadeiro SPA canino. O Interior do Estado carece de centros de zoonoses, especializados no diagnóstico de tratamento e destinação correta aos animais. Limoeiro do Norte não possui um centro desses, mas a Prefeitura Municipal mantém um canil público, com agentes de zoonozes retirando animais das ruas e evitando possíveis contaminações ao homem. E para evitar a superlotação, o empresário Júnior Dantas recebe todos os meses muitos cães, a maioria com aparência feia e maltrapilha, recém-capturados nas ruas – dias depois de terem sido abandonados pelos donos.
“As pessoas passam anos com um animal, depois jogam na rua porque ele ficou velho. E quando envelhecer, o dono também vai querer ser abandonado pela família?” questiona Dantas. Em seu sítio de três mil metros quadrados, havia até ontem 123 cães, dos “vira-latas” ou “pé duro”, às raças mais aceitas pelos estimadores de cães. Em casa moram 14 cachorros, e mais 15 em outro sítio. E o número tende a aumentar. Ele os aceita para que não sejam mortos pelos donos ou no próprio canil – a eutanásia acontece em comprovação de doenças como a Leishmaniose.
“Tem muitos que chegam quase mortos, não se sustentam direito, quando vamos descobrir era somente fome, e estão aí, firmes e fortes”, comenta o empresário, que gasta mais de R$ 2 mil por mês para manter o espaço, que conta com piscina para terapia nos bichos, casinhas de abrigo do sol e da chuva e uma cozinha. No cardápio, ração, ossada de boi, leite, pães e farinha de milho.
Para Júnior, quem diz que gosta de animal mas o abandona quando este adoece ou envelhece, não gosta de verdade. “O amor de um bicho é como amor de mãe, é fiel. Um cachorro não tem maldade, é o jeito deles, só tem amor pra dar, ao contrário do ser humano, que muitas vezes não é verdadeiramente humano”, define, com outras palavras, a famosa máxima canina: “quanto mais conheço os homens, mais admiro o meu cachorro”.
Cuidados
Atropelamento, vandalismo e maus-tratos domésticos estão entre os principais itens do histórico da maioria dos cães. Gastar dinheiro com animais depreciados pelos donos, que estejam doentes ou sadios, e não importando a raça, pegando-os abandonados no meio da rua e tratando em um espaçoso sítio com piscina são medidas suficientes para Dantas ser tachado de “louco” pelos vizinhos. Ele, um “apaixonado” pelos cães, retruca que louco é quem faz a coisa errada e sabe o que está fazendo.
O empresário faz parte de um grupo de simpatizantes às causas de proteção ao animal, como o professor universitário Ivan Remígio e o médico veterinário Alisson de Aquino. Eles têm a intenção de criar uma associação, para formalizar a assistência. Uma preocupação já evidente é o controle de doenças como o calazar. “Eu não acho correto é não terem certeza absoluta da doença e matarem o animal”.
A eutanásia de animais com Leishmaniose ganhou repercussão neste ano, não somente pelos flagrantes do Caderno Regional sobre as torturas feitas com os bichos: sem muito alarde, em julho deste ano os ministérios da Saúde e da Agricultura baixaram a Portaria Interministerial 1.429 que proíbe, em todo o País, o tratamento da Leishmaniose Visceral em cães infectados ou doentes. A medida gerou o protesto de dezenas de Organizações Não Governamentais e associações de defesa e proteção dos animais, também dividindo especialistas no tema.
Os defensores argumentam que o tratamento em cães já é utilizado com êxito há mais de dez anos. A eficácia da eliminação de animais infectados no controle da doença é contestada em diversos estudos que apontam que o método cruel não alcança resultados que o justifiquem operacionalmente. Pesquisas científicas dão conta de que animais em tratamento, e aqueles já tratados, são incapazes de transmitir a Leishmaniose, pois deixam de ter protozoários presentes em sua pele. A Associação Humanitária de Bem-Estar e Proteção Animal Arca Brasil (SP) tem feito um trabalho de divulgação nos Estados sobre as medidas públicas e o que pode ser feito no tratamento de animais com a doença. Encabeça movimento contra a
portaria nº 1.429.
Júnior Dantas
Limoeiro do Norte - F.(88) 9964.2012
ONG Arca Brasil -www.arcabrasil.org.br
Fonte:Diário do Nordeste
Repórter MELQUÍADES JÚNIOR
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