segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Negócio das rações para animais de companhia parece estar imune à crise

Portugueses compram cerca de 7000 toneladas por mês

A Rações Avenal desistiu de fabricar alimentos para animais de criação e passou a dedicar-se apenas a cães e gatos. Decisão estratégica que salvou a empresa da recessão económica.


Final dos anos 90. Os camiões saíam da fábrica, carregados de rações para porcos, galinhas, vacas e outros animais de criação. As facturas eram emitidas, mas os produtores do sector tinham dificuldades em pagar. "Havia a crise da carne de porco, a crise do leite, depois as vacas loucas. Nós íamos produzindo, mas os pequenos lucros da empresa ficavam na conta de clientes", conta Ulisses Mota, administrador da Rações Avenal.

A crise das vacas loucas foi a gota de água. "Deixámos de poder usar farinha de carne no fabrico das rações, excepto para os animais de companhia, e, dadas as dificuldades que havia, passámos a produzir só petfood [comida para animais de estimação]", acrescenta. A produção baixou subitamente para seis vezes menos e muitos dos clientes a quem deixaram de fornecer rações para animais de quinta "esqueceram-se" das últimas facturas.

No entanto, a nova mercadoria começou a impor-se progressivamente no mercado. A Rações Avenal SA, que emprega actualmente 23 pessoas, passou a ser a primeira empresa do ramo a produzir exclusivamente para cães e gatos. E hoje, depois de ter feito investimentos em novas linhas de fabrico, produz oito toneladas por hora de rações entre as oito da manhã e a meia-noite.

Ulisses Mota está satisfeito com a opção tomada. "Permitiu-nos limpar os créditos malparados, melhorar as condições de trabalho, ganhar dinheiro e investir." Aliás, os investimentos têm sido continuados, desde a primeira extrusora (máquina que transforma o composto em rações às bolinhas, estrelinhas e até peixinhos para os gatos), comprada há nove anos em segunda mão na Holanda e que produzia 600 quilos por hora, até à actual (a terceira), que fabrica oito toneladas por hora.

Gestor planeia expansão

Com uma facturação de 4,2 milhões de euros em 2008, a empresa espera facturar mais 23 por cento este ano. Um caso raro num cenário de recessão generalizada. Os clientes são de vários tipos, desde particulares até criadores de cães, petshops, lojas de rações, armazenistas, clínicas veterinárias e, claro, as médias e grandes superfícies. Nestes espaços, sacos de comida para animais de companhia com nomes estrangeiros como Fluffy, Ruff ou Spike vêm, na verdade, do bairro do Avenal, no limite urbano da cidade das Caldas da Rainha.

Esta é, aliás, uma das razões que leva este empresário a projectar uma nova fábrica noutro local para expandir a produção. Um pré-acordo com um grande distribuidor nacional dá-lhe alguma tranquilidade para avançar com um investimento de 2,5 milhões de euros nos próximos quatro anos. Por outro lado, o mercado nacional não está ainda saturado. Apesar da crise, não falta aos portugueses dinheiro para a comida do gato e do cão e só há duas fábricas no país neste negócio - as Rações Avenal a sul e a Sorgal a norte (que pertence ao grupo Valouro).

Ulisses Mota estima que o consumo nacional destes produtos ronde as 7000 toneladas por mês. Desse total, a cabe à Rações Avenal 1100 toneladas - pouco mais do que os seus concorrentes portugueses. A restante fatia é dominada pelos espanhóis, que têm uma política de preços muito agressiva.

Ainda assim, cinco por cento da produção da empresa é exportada para a Andaluzia, porque a maioria das fábricas espanholas concorrentes estão a norte de Madrid e, sendo este produto muito sensível ao preço do transporte, há uma pequena vantagem competitiva das Rações Avenal para o mercado do Sul de Espanha. Já na raia é mais difícil. Como a comida para animais só paga sete por cento de IVA em Espanha, os consumidores portugueses preferem atravessar a fronteira para a comprar.
Por Carlos Cipriano

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