Depois de tantos protestos selecionei o artigo do Juremir Machado da Silva para o blog. A frase embora chocante é um protesto do jornalista contra o que denominam de "CAVALGADA DO MAR ". É o mínimo que se pode fazer para proteger o animal-simbolo deste Rio Grande.
No jornal Zero Hora foi publicado:
Conforme informou o Veterinário que acompanhava a Cavalgada, Sr. Alexandre Monteverde, no mínimo 30% dos cavalos forçados a percorrer 240 quilômetros em oito dias não têm condição física para a tarefa. Ele conta que os dois mortos eram obesos e sedentários, levados para o sacrifício por donos sem conhecimento. Morreram com sinais de desidratação extrema e cansaço. O presidente da Fundação Cultural Cavalgada do Mar, Vilmar Romera reconhece que ocorrem “absurdos”, como no caso de um cavaleiro que chegou com uma égua prenhe.
– Cavalo só morre por falta de cuidado. Tem cara que traz para a cavalgada animal que ficou três meses comendo dentro de cocheira. Tem gente aqui que nunca viu cavalo. Que só sabe diferenciar o cavalo de uma vaca por causa da guampa – afirma.
Apesar de reconhecer a falta de cuidado, Romera não considera que tenha qualquer responsabilidade como organizador da cavalgada e não compreende os protestos.
– Que culpa eu tenho se tu matas o teu cavalo? Morreram dois, o que é natural. Se morrerem 15 cavalos, não tenho nada com isso. Quem sou eu para dizer que alguém não pode participar? O animal tem de ser preparado. Esse é um problema do dono do cavalo. É como mulher. Se tu não tratares bem, vais levar guampa – diz Romera.
A minha opinião é que uma Fundação tem responsabilidade sim! pelas mortes e maus-tratos aos cavalos na Cavalgada, por ser a organizadora do evento patrocinada com recursos públicos do Banrisul, CEEE e Sulgás, e não se precaver dos cuidados com os animais e permitir que morram extenuados. A morte dos cavalos que não resistiram a maldita Cavalgada por cansaço e outros, é crime previsto no Decreto Federal 24.635que determina em seu artigo 3, III - Obrigar animais a trabalhos excessivos ou superiores às suas forcas e a todo ato que resulte em sofrimento para deles obter esforços ..... XVI - Fazer viajar um animal a pé mais de dez quilômetros sem lhe dar descanso, .....................
Lourdes Sprenger
TEMPO DE MATAR CAVALOS
Meu avô era um sábio analfabeto. Certas coisas ele não compreendia: as mulheres que via na televisão bronzeando-se ao sol do meio-dia e homens cansando cavalos inutilmente. Antes de os cientistas darem o alerta ele já conhecia os perigos do sol para a pele dos humanos e para o fôlegos dos animais. Meu pai seguia a mesma lei: no verão, não se encilhava cavalo das 11 horas da manhã até quatro e meia da tarde. Salvo extrema necessidade. Por isso, levantavam muito cedo. As principais lides campeiras tinham de ser feitas antes de o sol ganhar o alto do céu. Andar a cavalo sem necessidade no calor era para eles coisa de gente da cidade. Pior do que isso, era algo condenável. Bárbaro.
As notícias de que dois cavalos morreram na tal cavalgada do mar horrorizariam meu avô e meu pai. Eles adoravam cavalos. Cuidavam deles com muito carinho. Veriam nessa exibição de cavaleiros urbanos, num dos verões mais quentes dos últimos tempos, um exibicionismo despropositado, uma falta de conhecimento escandalosa e uma maldade intolerável com os bichos. Para quê? Mais espantoso é o lema da brincadeira deste ano: “mulheres a cavalo pelo Rio Grande”. Um gaúcho verdadeiro, da campanha, diria com algum deboche: parem com isso, soltem os cavalos pelo Rio Grande. Com um solaço desses só há uma coisa a fazer: ficar mateando ou sesteando embaixo de um cinamomo. O resto é frescura de gente maturranga.
A secretária da Cultura, Mônica Leal, está contribuindo para maltratar cavalos na beira do mar. Ela é entusiasta desse tipo de ação cultural. Enquanto ela ajuda a estafar cavalos, sentindo-se uma nova Anita, a cultura do Rio Grande do Sul estrebucha. A sala de cinema Norberto Lubisco foi fechada. Tem cinema no shopping. Voltaire Schilling, um dos nossos intelectuais mais brilhantes e tradicionais, foi demitido da direção do Memorial do Rio Grande do Sul. Parece que ele não tinha o que conversar com a chefe. Afinal, não é de andar a cavalo na praia com sol quente. A casa está caindo, os cavalos morrendo, o circo pegando fogo. Mas a secretária Mônica Leal está firme na montaria. Sempre. Ela é dura na queda. Corresponde a todos os clichês imagináveis.
Agora, entre nós, há sem dúvida um ponto obscuro, um elemento que exige investigação séria: por que mesmo Mônica Leal tornou-se secretária da Cultura? É um tempo estranho este. Quando não há mais necessidade alguma de movimento, todos querem se deslocar. Especialmente pelos meios mais anacrônicos. Pode haver algo mais excitante do que permanecer no lombo de um cavalo, com o sol a pino, até o bicho morrer? Tudo isso em nome da tradição! Os franceses do século XVIII usavam perucas empoadas. O Ministério da Cultura da França devia lutar pela recuperação dessa tradição eliminada pela modernidade. Vou comprar um cavalo para matar na próxima cavalgada.
JUREMIR MACHADO DA SILVA > correio@correiodopovo.com.br
CORREIO DO POVO
Um comentário:
Muito bom. Publiquei no meu blog. Abraço, Nati
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