Defesa veterinária
Depois de diversas denúncias envolvendo o trabalho do Canil Municipal e questionando os cuidados com os animais abrigados no local, os três médicos veterinários que ali atuam se defendem, apontando alguns problemas estruturais que incidem na qualidade de seus trabalhos.
Eliane de Carvalho, que também é diretora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Paulo Roberto Lara D’Ávila e Luiz Gustavo Gouveia Lauriano afirmam que todo o trabalho é desenvolvido com transparência, embora não seja hábito divulgar os resultados, necessários também para o planejamento das ações e do material que será utilizado.
Os médicos contaram que participam da elaboração das leis referentes a animais na cidade, sugerindo adaptações adequadas para que possam desempenhar seus papéis profissionais.
Após as denúncias, eles afirmam sentirem-se inseguros, que tornaram-se alvo de agressividade e sentem necessidade de mostrar o que tem sido realizado para o cumprimento das leis, dividindo a responsabilidade com pessoas envolvidas no trabalho de cuidar de animais, mas que não participam da rotina do canil.
Eles apontam que apesar das reclamações, boa parte da população “lava as mãos” para a questão do abandono de animais. “É muito comum, quando as pessoas não conseguem deixar os animais aqui, saem pelo portão e abandonam caixas com filhotes no meio do canavial. Não temos alternativa, vamos lá e buscamos”, exemplificou a médica. “Trazer qualquer animal para cá faz a pessoa sentir que está fazendo uma boa ação, mas não há preocupação com a posse responsável.”
PROCEDIMENTO. Eliane disse que as denúncias de maus tratos a animais acolhidos no canil prejudicaram a realização de procedimentos como as castrações. “Por ética, jamais iremos transformar o canil em um depósito de animais. A pessoa que vem buscar o cachorro aqui pode fazer a reclamação no ato, mas calúnias graves causam prejuízos e a população mal-informada sobre esse trabalho pensa em terrorismo.”
Os primeiros casos de raiva surgidos na cidade de São Paulo, provavelmente na década de 50, foram responsáveis por disseminar a ideia da carrocinha que recolhe cães e gatos nas ruas para transformá-los em sabão.
Os veterinários do CCZ afirmam que muita coisa mudou ao longo dos anos, mas apesar dessas práticas terem sido extintas, a população ainda as assimila como verdadeiras. “Infelizmente o poder público não acompanhou a evolução do vínculo das pessoas com os animais para sensibilizá-las sobre o novo tratamento e hoje sofremos com esse preconceito. Não há campanhas para valorização do serviço público com animais”, afirmaram.
Eles convidam a população a conhecer o trabalho desenvolvido, participar e pretendem solicitar à Prefeitura o desenvolvimento de campanhas de conscientização sobre o trabalho que desempenham. “Será importante para atuarmos também com estabilidade emocional, sem pressão, em um ambiente melhor e mais seguro”, falaram.
DANIELE RICCI
Da Gazeta de Piracicaba
daniele.ricci@gazetadepiracicaba.com.br
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