quinta-feira, 26 de junho de 2008

Pitbulls - Em defesa do microchip

Especialistas avaliam projeto de implantação do aparelho discutido por autoridades

Em Santo André (SP), sistema contribuiu para a redução no número de cães errantes e de ataques

Caxias do Sul - Veterinários e adestradores de cães defendem o uso de microchips em pitbulls para coibir o abandono e diminuir as ocorrências de ataques a pessoas.


Eles defendem que a facilidade na identificação do proprietário reduzirá o número de cães soltos ou criados sem condições de saúde ou adestramento. A obrigatoriedade do uso do aparelho, proposta quarta-feira pelo Ministério Público (MP), será discutida pela Câmara de Vereadores na próxima semana.

- O chip não vai amansar um pitbull, mas o simples fato de o dono poder ser identificado é muito importante para evitar que pessoas despreparadas tenham um animal dessa raça - argumenta o criador e adestrador Marcelo Marcilio, do Kennel Club de Caxias do Sul.

A opinião de quem utiliza a tecnologia é a mesma. A veterinária da Secretaria da Saúde de Santo André (SP), onde o microchip é usado desde 2005, Juliana Oliveira Antunes, atesta a eficiência do equipamento. Na cidade paulista de cerca de 670 mil habitantes, o chip é usado em todos os animais doados pela prefeitura. Atualmente, 512 cães usam o aparelho, que é implantado em cerca de 40 bichos por mês.

- Há três semanas, encontramos um pitbull abandonado. Como estava chipado, conseguimos localizar o proprietário e responsabilizá-lo judicialmente pelo abandono e pelo perigo que ele causava estando solto. O uso do chip diminuiu bastante o número de animais abandonados e de pessoas mordidas - relatou a veterinária.

Mesmo defendendo o uso da tecnologia, ambos acreditam ser necessário um conjunto de ações para tornar a cidade segura contra ataques de cães bravos. Marcilio propõe que no microchip sejam inseridas também informações sobre o adestrador. Em caso de encontrar cães soltos, o profissional poderia ajudar as autoridades com o manejo do animal.

- Quando adestramos um cão, temos um registro completo da personalidade dele e de seu dono. Podemos ajudar até no caso de questões judiciais, pois podemos analisar as circunstâncias de um ataque e auxiliar a Justiça a analisar os casos - explica o adestrador.

A Comissão de Saúde e Meio Ambiente do Legislativo deve debater na próxima semana sobre uma nova legislação para cães perigosos. Proposta pelo vereador Deoclécio da Silva (PMDB), após a morte de uma idosa por ataque de pitbulls no dia 7, a nova lei vai considerar as recomendações do MP, da Polícia Ambiental (Patram), da Sociedade Amigos dos Animais (Soama) e da prefeitura.

Além da exigência do uso de microchips em pitbulls, o grupo pede aos legisladores que proíbam a comercialização da raça na cidade e obriguem castração de novas crias. Segundo Deoclécio, as sugestões das autoridades influenciarão na redação do texto final da lei, ainda sem prazo para ser posta em votação.

( joao.machado@jornalpioneiro.com.br )
O equipamento
O QUE É
- É um aparelho do tamanho de um grão de arroz que pode ser implantado sob a pele do animal
- É produzido com um material chamado bio-vidro, que não causa danos à saúde do animal
- Não possui bateria. É energizado quando recebe um sinal do aparelho leitor
- A aplicação é indolor, dispensa anestesia e é feita com uma agulha e uma seringa
- Animais podem receber o aparelho a partir de cinco semanas de vida
COMO FUNCIONA
- No microchip serão inseridas informações sobre o animal, o dono e o adestrador. Como um CD de computador, qualquer tipo de dados como nomes, idades, telefones e medicações recebidas podem ser gravados
- As informações são passadas para o chip antes ou depois de sua implantação, com tecnologia parecida com a radiofreqüência.
- O local de implantação geralmente é na parte de cima do pescoço, entre os omoplatas do animal
- Os dados do microchip podem ser consultados usando um aparelho semelhante a um detector de metais. Ele capta as informações e as transfere para uma tela de computador ou do próprio leitor
COMO DEVERÁ SER USADO
- A Secretaria Municipal da Saúde deverá se encarregar de microchipar os animais e inserir os dados em um banco eletrônico que ficará disponível on-line para as autoridades
- O chip não funciona como um GPS, ou seja, não haverá um monitoramento via satélite informando a posição do animal
- A idéia é distribuir o aparelho gratuitamente nos 60 primeiros dias, depois de a lei aprovada. Após esse prazo, quem tiver de microchipar precisará pagar pelo serviço
- Cada órgão de fiscalização, como a Patram e a Vigilância Ambiental receberão leitores para, no caso de encontrar um pitbull solto nas ruas, poder identificar o dono. Dessa forma, ele poderá ser multado por deixar o cão livre ou abandonado
- Caso esteja passeando sem focinheira, na abordagem o chip identificará o dono que poderá responder pela infração, mesmo que não seja ele que estiver conduzindo o cão
- Não está definido se haverá fiscalizações nas residências, ações ostensivas nas ruas ou se somente serão atendidos casos de denúncias de animais soltos ou passeando sem focinheira
ANIMAIS SEM MICROCHIP
- Não há definição para o caso de se abordar um pitbull sem microchip
- A Patram defende a eutanásia do animal se o dono não for encontrado e a multa se ele estiver com o dono
- O MP é contrário ao sacrifício, mas admite em casos de o dono não ser encontrado e o animal, depois de um período de observação, o bicho não mostre capacidade de sociabilização
- A Soama é contrária à morte em qualquer circunstância e defende a destinação dos animais insociáveis para um criatório especializado, assim como é feito com os animais silvestres sem capacidade de se readaptar ao meio ambiente natural
Sem fiscalização
Enquanto a lei obrigando o uso dos microchips não é criada e posta em vigor, a fiscalização sobre cães soltos ou passeando sem focinheira continuará deficiente em Caxias do Sul. A Patram, responsável pela fiscalização, diz não possuir infra-estrutura para o trabalho.

Multimídia

Chip é do tamanho de um grão de arroz

A aplicação é indolor, dispensa anestesia e é feita com uma agulha e uma seringa

Fonte: O Pioneiro
JOÃO HENRIQUE MACHADO

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