Cães de pastoreio viram "faz-tudo" em fazendas
Animais assumem funções que vão desde o pastoreio e condução de bovinos, ovinos, caprinos e gansos até a garantia da segurança dos animais.
O antigo hábito do peão de boiadeiro de acordar cedo, calçar as botinas, selar o cavalo e ir atrás do gado para levá-lo até o curral pode estar com os dias contados. Silencioso, com os olhos fixos nos animais, um caminhar rasteiro e postura de um felino prestes a atacar a presa, o Border Collie Zigg exerce, sozinho, a função de agrupar o rebanho e conduzi-lo, em poucos minutos, ao local indicado.
Sem um latido ou mordida, o cão mantém pleno domínio sobre o rebanho e não desvia, em nenhum momento, o olhar dos animais. O rabo sempre entre as pernas indica a forte concentração para o trabalho e a dedicação para manter o grupo unido e sob controle o que, em alguns casos, pode exigir leves mordidas para mover os animais.
Assim como o Border Collie, cães de trabalho estão ganhando cada vez mais espaço nas propriedades rurais para auxiliar nas tarefas desempenhadas no campo, não só no que diz respeito ao arrebanhamento, mas também na proteção. O treinador de cães de pastoreio Nedson Buzzo Júnior alerta para as diferentes atividades que cada raça está apta a desempenhar.
“Existem os arrebanhadores, como o Border Collie e o Australian Kelpie, indicados para circular o rebanho e levá-lo para um determinado local. O Australian Cattle Dog, também chamado de Heeler, e o Australian Shepherd (pastor australiano), já são empurradores que, com o condutor, tocam os animais. E finalmente os guardiões como o Maremano e o cão dos Pirineus, que protegem contra predadores. É importante essa diferenciação para direcionar o cão para a função correta”.
Tanto Border Collie quanto o Kelpie trabalham de forma semelhante. Se treinado, o Australian Shepherd também terá condições de atuar no arrebanhamento, se diferenciando pela maior proximidade que mantêm do rebanho. “Eles não precisam de uma zona de conforto para atuação, que prevê uma certa distância do gado. Eles entram no meio e são muito corajosos. Se for preciso, mordem a cara do boi para que ele se mova”, explica Márcia Bertero, proprietária do Wind Spirit Kennel, especializado na criação da raça.
Com forte instinto que vem da origem de cães pastores tanto o Border Collie quanto o Kelpie e o Australian Shepherd precisam de treinamento para potencializarem as habilidades no trabalho. “Se não forem bem preparados, os donos aproveitarão somente 30% da real capacidade do cachorro porque eles agirão impulsionados somente pelo instinto”, avalia Nedson.
Criador da raça Border Collie há mais de cinco anos, Cláudio Murilo da Silva, proprietário do Canil Boiadeiro, pretende inaugurar, no próximo mês, o primeiro centro de treinamento com pista de prova de Minas Gerais. O ensinamento para pastoreio começa normalmente quando o filhote tem entre sete e 12 meses e duram ao menos seis meses. “Primeiro os filhotes são colocados em um espaço menor com alguns animais para se acostumarem com o rebanho e para aprenderem a agrupar”, explica. “Depois, com uma guia longa, o cão vai interagindo com o rebanho e sempre que late puxo um pouco a guia para ele perceber que isso não é certo. Nessa etapa eles se familiarizam com os comandos e começam a trazer os animais”, completa.
Todos os comandos são proferidos em inglês e no total somam oito ordens que são as de correr no sentido horário e anti-horário, caminhar, deitar, andar devagar, voltar, ir para trás e olhar para trás. Apesar do treinamento ser fundamental para a formação de bons cães de trabalho, a preparação do animal começa antes, no período chamado de recria, que compreende desde o nascimento até os primeiros ensinamentos do treinador. “Essa etapa corresponde a 70% do que o seu cão realmente será, por isso é necessário bastante cuidado. Evitar que ele tenha contato com o rebanho muito pequeno e fique sujeito a se machucar e ficar traumatizado, o que o impossibilita o trabalho futuro”, alerta Nedson.
Para ele, o bom cão é aquele que atende três requisitos: deitar, que funciona como o freio do animal, voltar para o dono e saber bem o seu nome. Indicado para qualquer tipo de rebanho, um filhote de Border Collie ou Kelpie sem treinamento sai, em média, por R$ 1,5 mil, enquanto o Shepherd pode sair por R$ 2,5 mil. “Já preparados para o trabalho, custam de R$ 4 mil a R$ 7 mil de acordo com a raça, se é para competição ou não entre outros fatores”, explica Nedson. A expectativa de trabalho das raças é até os 12 anos, com pico de atividade entre os quatro e oito anos.
Paula Takahashi - Estado de Minas
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